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Incerteza em relação ao futuro leva empresários à exaustão

Empreendedores se sentem pressionados a encontrar soluções para a crise

Há dias, a empresária Teomila Veloso, 33, não tem conseguido dormir direito. “O meu corpo para, mas a minha mente continua trabalhando.”

Há sete anos, ela comanda o Point do Acarajé da Mila, que começou como uma barraca de rua e hoje funciona em um trailer em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo.

O negócio está operando apenas por delivery —além do serviço próprio, com dois motoboys, as entregas passaram a ser feitas pelo iFood. Para atrair mais clientes, Teomila tem criado promoções. Mas, só agora, as vendas chegaram à metade do volume normal.

“Não sei se vou conseguir pagar as contas. Tenho o trailer para tocar e, com as meninas em casa, fica mais difícil ainda”, diz Teomila, cujas filhas tem 7 e 16 anos.

Ela só conseguiu se acalmar um pouco depois que ligou para empresários para pedir conselhos. “Precisava de alguém que dissesse para mim ‘para e respira’.”

Neste momento, conectar-se a outros empreendedores é fundamental, diz Ana Fontes. “Normalmente, empreender é um ato muito solitário. Ao se juntar a quem está passando pela mesma situação, a gente sente um conforto e ganha motivação” afirma.

E, dessa união, podem ainda surgir parcerias e novas ideias para ajudar superar as dificuldades deste período.

A consultora Marcela Quiroga em sua casa, em São Bernardo do Campo - Gabriel Cabral/Folhapress

Já a empresária Marcela Quiroga, 54, não tem conseguido dividir suas angústias. Isso porque a pandemia trouxe a ela um problema oposto ao enfrentado pela maioria dos empreendedores no momento: o excesso de demanda.

Ela tem uma consultoria de vendas diretas e tem sido muito procurada para tocar projetos para plataformas digitais. Com isso, teve aumento de 30% no volume de trabalho.

Seu expediente tem se estendido por pelo menos dez horas. A única pausa é cronometrada: 20 minutos para esquentar o almoço, a sobra do jantar do dia anterior, para a filha, de 12 anos, e para sogra, de 85.

“O que mais me incomoda é que eu estou na contramão de todo o mundo e sinto que tinha que estar feliz”, diz Marcela. “Mas a pressão está muito grande, os clientes querem as soluções para ontem.”

Além disso, ela também está se sentindo culpada por não estar conseguindo cuidar da casa e dar atenção à filha. “Com essa pandemia, o emocional dela fica muito abalado. Como vou passar segurança para ela de uma coisa que eu não tenho?”, afirma.

Na última semana, Marcela teve uma crise de choro. “Vi que preciso achar uma forma de ter um pouco mais de equilíbrio, algo espiritual, para enfrentar os próximos meses.”

Segundo a psicóloga Maria da Conceição Uvaldo, é importante tentar estabelecer uma rotina, mesmo com todas as dificuldades. “Neste momento, é muito difícil falar para uma pessoa ‘fique tranquila’, porque ela não vai ficar, mas ela precisa se cuidar”, afirma.

Em muitos casos, é necessário buscar ajuda psicológica. Muitas redes de psicólogos estão oferecendo atendimento virtual gratuito, caso da clínica Dr. Psico e da iniciativa Relações Simplificadas. A Rede Mulher Empreendedora também está com uma parceria com a empresa Vittude, com consultas a R$ 20.

“Uma coisa que pesa muito sobre as mulheres é a cobrança de que é preciso usar esse tempo para fazer cursos e se capacitar. Você não precisa ser aquela que está maravilhosa, fazendo tudo em casa. Você não tem que sair melhor da pandemia, tem que sair viva”, afirma Ana Fontes.

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